21 de março de 2012

JUST WORDS . dia mundial da poesia

Alexandre O´Neill


Há palavras que nos beijam 

Há palavras que nos beijam 
Como se tivessem boca, 
Palavras de amor, de esperança, 
De imenso amor, de esperança louca. 

Palavras nuas que beijas 
Quando a noite perde o rosto, 
Palavras que se recusam 
Aos muros do teu desgosto. 

De repente coloridas 
Entre palavras sem cor, 
Esperadas, inesperadas 
Como a poesia ou o amor. 

(O nome de quem se ama 
Letra a letra revelado 
No mármore distraído, 
No papel abandonado) 

Palavras que nos transportam 
Aonde a noite é mais forte, 
Ao silêncio dos amantes 
Abraçados contra a morte. 




Sophia de Mello Breyner Andresen

ESPERA 

Deito-me tarde 
Espero por uma espécie de silêncio 
Que nunca chega cedo 
Espero a atenção a concentração da hora tardia 
Ardente e nua 
É então que os espelhos acendem o seu segundo brilho 
É então que se vê o desenho do vazio 
É então que se vê subitamente 
A nossa própria mão poisada sobre a mesa 
É então que se vê o passar do silêncio 
Navegação antiquíssima e solene 




Fernando Pessoa


Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê! 



Florbela Espanca
Os versos que te fiz Deixa dizer-te os lindos versos raros Que a minha boca tem para te dizer! São talhados em mármore de Paros Cinzelados por mim para te oferecer Têm dolência de veludos caros, São como sedas pálidas a arder... Deixa dizer-te os lindos versos raros Que foram feitos pra te endoidecer! Mas,meu Amor,eu não tos digo ainda. Que a boca da mulher é sempre linda Se dentro guarda um verso que não diz Amo-te tanto!E nunca te beijei... E nesse beijo,Amor,que eu não dei Guardo os versos mais lindos que te fiz!